Crítica | Madame Teia

Compartilhe este conteúdo:

Madame Teia não esconde a necessidade de explicar sua existência, desde a primeira cena em que a mãe da protagonista se envolve em um diálogo minucioso e inexplicável com o futuro vilão do filme sobre a busca por aranhas na Amazônia, mesmo que ele aparentemente a tenha levado até lá. Essa explicação detalhada permeia todo o filme, quase sem pausas para o desenvolvimento dos personagens, chegando ao ponto de uma moça ter a frase “Eu como Matemática no café da manhã” estampada em sua camiseta, para garantir que o público não esqueça a suposta inteligência excepcional da protagonista.

fotojet-2024-02-07t181512891_vrvt.960 Crítica | Madame Teia

Embora essa abordagem didática seja comum em Hollywood, especialmente em filmes de super-heróis, Madame Teia falha em todos os outros aspectos necessários para construir uma história satisfatória. Até mesmo a própria protagonista, interpretada por Dakota Johnson, parece consciente do ridículo da situação em que está inserida, mas o filme não aproveita isso para oferecer um toque de humor, limitando-se a piadas clichês entre adolescentes ou a uma repentina mudança de coração da personagem em relação à família, encontrando motivação em três garotas.

O roteiro, escrito por quatro pessoas, incluindo a diretora SJ Clarkson, explora a origem da heroína. Nos quadrinhos, Cassandra Webb é uma vidente do universo Marvel, enquanto no filme ela é uma paramédica que adquire o dom de ver o futuro após um acidente e se vê envolvida em uma trama para salvar três adolescentes de um vilão ligado ao seu passado. No entanto, tanto o desenvolvimento quanto o desfecho de Madame Teia seguem padrões previsíveis de filmes de quadrinhos, com uma execução que remete a projetos fracassados como Mulher-Gato ou Elektra.

Sony-antecipa-Madame-Teia-no-Brasil-e-filme-estreara-na-Quarta-feira-de-Cinzas-legadodamarvel-1024x538 Crítica | Madame Teia

A falta de sutileza no texto não deixa espaço para que o excelente elenco, composto por Isabela Merced, Sydney Sweeney, Celeste O’Connor e Johnson, brilhe. As personagens são tratadas como veículos de explicações em vez de serem desenvolvidas com uma narrativa ou trajetória própria. Mesmo Johnson, como Cassie, não consegue escapar do roteiro e da direção confusos.

Clarkson tenta compensar a falta de ação com uma fotografia repleta de closes e enquadramentos inusitados, mas isso não impede que as duas horas de filme se arrastem. A trama parece confiar excessivamente na explicação repetitiva de conceitos, deixando o clímax como uma sucessão apressada de eventos, como se fosse uma obrigação após tantas explicações ao longo do filme.

fotojet-96_w8a7.960 Crítica | Madame Teia

Madame Teia pode ser considerado mais um exemplo de filme de super-herói fraco, que evidencia o desgaste do gênero, mas sua falha vai além disso. O filme se perde em suas próprias tentativas de introduzir novos personagens, sem precisar da pressão do desgaste do formato para tropeçar. Talvez seja melhor seguir o conselho de uma das personagens e tirar uma semana de folga para assistir a filmes antigos, um conselho que poderia ser aplicado a muitos produtores de filmes de super-heróis hoje em dia.

Amante de cinema, séries e vídeo game, principalmente o retrogame. Após anos consumindo muitas coisas boas e ruins, tento apresentar a visão mais sincera atualmente.

1 comentário

Publicar comentário